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Criador anuncia nova criação no ensaio de sua fase áurea
Por Karen Kristien
Rio, 28 de abril de 2016
O fundador da Cia Gente Paulo Emílio Azevedo que recentemente completou vinte anos de carreira, tendo a produção em dança destaque no percurso, anuncia nova criação do gênero. Vamos conhecer mais dessa fase que ele determinou como “áurea”.
Conhecido por uma atitude de pensar e agir através do corpo enquanto modo alternativo de se fazer política, Paulo compreende que sua ação se renova na mesma velocidade pela qual a sociedade experimenta as transformações políticas, culturais etc. Aliás, eis que aí se encontra o cerne de sua contemporaneidade enquanto artista.
A nova criação “mÒDIO” que tem estreia prevista para o mês de junho desse ano retoma o tema “violência”, o qual Paulo investigou por mais de uma década quando então dirigia a companhia Membros – coletivo que encerrou seu ciclo em dezembro de 2011. Mas, dessa vez o coreógrafo não pretende trazer o tema como pressuposto exterior ao corpo que dança. O que seria isso? Pedi que ele esmiuçasse um pouco mais a questão. “Na investigação anterior a consequência do tema (isto é, os efeitos no corpo) era a forma apreendida para a gestão do processo criativo, por sua vez orientando a dramaturgia das suas personagens”. Ainda, não satisfeita com a resposta, aprofundei um pouco mais a questão e perguntei-lhe qual seria a grande diferença de evocar o mesmo tema noutra leitura? Paulo é categórico, postura de quem conhece do que fala: “entenda; o que me interessa agora é saber como se produz a violência como ponto de energia e, obviamente, para isso fui atrás de expressões no cotidiano que revelam situações de conflito. Você já parou para medir o tamanho da energia de um ato de fúria? E da fabricação do ódio?”
Finalmente satisfeita com a explicação e, ainda assim curiosa pelo título da obra – “mÒDIO” – passei a enxergar melhor a ideia da “mercantilização do ódio”. Para Paulo há em voga uma “economização da alma” e os dias atuais a revelam a cada fabricação da verdade e sua consequente sistematização de redes de controle e manipulação da subjetividade alheia.
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“…o que me interessa agora é saber como se produz a violência como ponto de energia e, obviamente, para isso fui atrás de expressões no cotidiano que revelam situações de conflito. Você já parou para medir o tamanho da energia de um ato de fúria? E da fabricação do ódio?”
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Acompanhando a residência de luz de “mÒDIO” pude perceber que Paulo é obstinado com o que persegue. Aparentemente tranquilo, não hesita resolver a complexidade que ele mesmo impõe à criação. Sabe que no fundo somente tem valor cada uma delas se chegarem ao esgotamento (da maturação) de suas possibilidades e desafios. É isso que, de fato, move esse criador – a busca, o risco.
Mas, “mÒDIO” é muito mais que a sua busca pessoal, não à toa os seus interlocutores ou “intérpretes-criadores” – termo que ele sempre adotou em sua trajetória, revelando por sua vez a importância do protagonismo de cada pessoa em cena -, vivenciam a experiência de forma ousada e também na busca de. Curiosamente citam que na primeira das imersões quando estavam perseguindo a “célula” que orientasse a qualidade do gesto pretendido chegaram a comemorar quando encontravam algo que valia a pena, sem que, necessariamente, se soubesse (antes) o que se procurava. Paulo leva os seus colegas de trabalho à exaustão, mas não o faz por simples capricho. Para ele a tomada de consciência é o estopim da liberdade e para tal é necessário muita desobediência, mas também ação correspondente que discipline a mesma.
Pergunto, então sobre essa “célula criativa” e ele é mais objetivo, também me lançando ao jogo de pensar por mim mesma: “o que vem antes da queda?” Estou, ainda abstraindo se ele se referia à queda como movimento que constituiu parte do alfabeto da linguagem da companhia Membros – coletivo anterior à Cia Gente – ou se quer situar uma cronologia do próprio movimento. Mas, vindo de Paulo pode não ser nada disso ou envolver ambas as expressões. Sobre a fase “áurea” ele brinca: “pois, é a afirmação diária e ininterrupta do ato de criar sem se corromper por nada nem ninguém. Quantos o fizeram? Estou há vinte anos experimentando e é só o começo; o meu ouro brilha desse atravessamento”.
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